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Dirijo

Escrito por em 22/10/2019

Dirijo (2008) – Duração: 13 minutos – Direção: Organização dos Professores Indígenas Mura e Raoni Valle.


Panorama do antigo e extinto uso de Cannabis Sativa entre os anciães Mura de outrora, quando os velhos que hoje nos falam eram apenas curumins. Uma ilustração da passagem do tempo, das mudanças dos costumes e das relações sócio-ambientais.

O documentário “Dirijo” começa com uma longa lista de nomes para uma determinada erva: “Dirijo”, “Dega”, “Meri’i” ou, depois da proibição, “Maconha”. Era utilizada amplamente por comunidades amazonenses para curar mal-estar (“As vezes o caboclo está meio mal, fazia um chazinho com duas folhas e ele comia que dava gosto”), dar paciência pro trabalho (de roçado ou de pesca) ou apenas para uso recreativo, algo estabelecido dentro da comunidade e com importante função de sociabilidade (é interessante notar, a partir dos depoimentos do documentário, os relatos de como era consumida a erva: em roda).

Era mais uma planta, que fazia parte dos usos e da sabedoria tradicional. A metáfora descrita de “dar paciência para o trabalho” é perfeita, e faz pensar sobre o que são usos sociais de uma substância psicoativa. Dentro do modo comunal de trabalho, sem as pressões de horário e produtividade, que não as da própria sobrevivência, o dirijo contribuía para, conforme relato, fazer perder a noção das horas e o trabalho andar melhor. Outro aspecto interessante é que a produção de cannabis não era vendida, senão permutada por outros bens de consumo, como peixe e farinha.

No entanto, a razão entorpecida é incansável quando se trata de expandir seus tentáculos proibicionistas. Missões da FUNAI e de um certo capitão, proibiram o consumo e o plantio ao final da década de 50. Um retrato impressionante de como o único braço do governo que chega com eficiência nas comunidades mais distantes, ou simplesmente periféricas, é o da repressão. Algo como se chegassem alienígenas na Terra e decretassem: “vocês estão terminantemente proibidos de consumir manteiga porque é ilegal na nossa galáxia”.

Disseram pros caboclos num plantar e eles pararam de plantar. Disseram que prejudicava muito eles. Ai eles foram deixando. Ai a cachaça ficou no lugar.

O que sobrou da enorme sabedoria dos usos tradicionais? Da forma lúdica de uso? Saudades, histórias e a “marvada da cana”, queimando as tripas das comunidades e acabando de forma lenta com a história desses povos.

Texto por Luis Fernandes – Igarapé Asú
Documentação Áudiovisual e Recuperação do Patrimônio Imaterial dos Pajés e Pearas. Autazes – AM

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